Conheça 14 sub-estilos de IPA!
História:
Certamente você já ouviu aquela história de que a primeira IPA foi inventada para resistir as longas viagens da Inglaterra até a Índia, pela adição extra de lúpulo e maior teor alcoólico. Mistérios ainda rondam essa versão, alguns historiadores questionam a falta de evidências, concretas, que provem que o cervejeiro George Hodgson (não confundir com Roger Hodgson, do Supertramp) de fato tenha inventado uma cerveja com esse perfil seco, lupulado e alcóolico intencionalmente para este fim. Há registro de que as Porters já resistiam bem às viagens até lá. Estudos alemães sobre o lúpulo também já mostravam os efeitos conservantes desse ingrediente.
Mas uma coisa é certa, o termo India Pale Ale, foi primeiro utilizado em 1829, em um jornal Australiano, para denominar uma cerveja originalmente da Inglaterra, que caiu no gosto dos colonos na Índia, era uma breja seca, amarga e alcoólica. As primeiras exportações de Hodgson para as Índias datam da década de 1790 e de fato se tornaram populares por lá. Essa versão de cerveja “indiana” só foi se popularizar na terra da rainha anos mais tarde.
Com o passar do tempo o estilo perdeu popularidade, até 1980, quando as cervejarias artesanais americanas ressuscitaram as IPAs! Tradicionais cervejarias britânicas também fizeram suas versões e até hoje estão aí na prateleira! A volta do estilo foi um sucesso e sem dúvida contribuiu para a popularização e crescimento do setor artesanal nos EUA, espalhando-se pelo mundo. De lá pra cá os americanos foram adaptando suas receitas e hoje há uma divisão entre IPAs Inglesas e IPAs Americanas. Os maltes caramelo e o corpo foram perdendo espaço, surgindo uma cerveja ainda mais seca, de fermentação neutra, onde o lúpulo era o principal ingrediente, em aroma e sabor! Quem puxou a fila foi o lúpulo Cascade, um marco paras IPAs nos EUA, cítrico e frutado, este lúpulo certamente revolucionou o mercado.
As inovações não pararam por aí! Cervejas que estrelavam o lúpulo foram se associando ao estilo, aumentando a família das IPAs, com variações de corpo, cor e graduação alcóolica. A Session IPA ganhou espaço, oferecendo uma opção mais leve e ao mesmo tempo lupulada, assim como nossa “Fake IPA”. Mais recentemente vivemos o boom das chamadas Hazzy IPAs: mais turvas, muitas vezes levando aveia na composição. Neste ponto, destacam-se as New England, como a nossa “Newbie”!
Estamos falando de mais de 200 anos de história, e mesmo assim ainda há um grande caminho pela frente! O estudo aprofundado do Lúpulo traz novidades recorrentes, principalmente no campo dos aromas, o que contribui para novas técnicas, visões diferentes e até novos lúpulos! Tudo isso cria um ambiente muito propício à inovação e surgimento de novas receitas e sabores diferentes!
Agora que você conhece a história por trás de um dos estilos mais célebres do mundo cervejeiro, vamos introduzir alguns conceitos mais técnicos. Posteriormente entenderemos como cervejas da mesma categoria – IPA – podem ser tão diferentes em termos sensoriais.
IBU:
Vamos começar pelo fator que, talvez, mais defina as India Pale Ale: IBU. Abreviação de international bitterness units, é a unidade que determina o amargor da cerveja! Quanto maior, mais amarga é a bebida. Nas IPAs estamos falando de um intervalo entre 40 e 70 IBUs, uma pancada, comparado aos 8-18 das American Lagers, as mais populares do mundo. O IBU da cerveja é determinado pela quantidade de alfa ácidos isomerizados durante a fervura – “Que? Não entendi nada!” – você pode estar pensando. Calma, te explico! Alfa ácido é a molécula presente no lúpulo que, na presença de calor, sofre modificações, proporcionando o amargor! Por isso a dose do lúpulo adicionada no início da fervura é chamada de “lúpulo de amargor”. No caso do aroma marcante que tanto adoramos, o lúpulo é adicionado no final da fervura, não dá tempo suficiente dele sofrer essa modificação molecular que aumente o IBU, deixando apenas o aroma!
Dry Hopping:
Daí surgem as adições à frio! O chamado Dry hopping! Que nada mais é que a adição de lúpulo durante a fermentação e maturação, processos que acontecem entre 20 e 0°C. Nele extraímos o máximo de aroma, sem adicionar IBU. Há um debate no meio cervejeiro de que o dry hopping, mesmo sem as elevadas temperaturas necessárias para as reações que proporcionam o amargor, implica sim em um aumento deste sabor amargo! Mesmo sem adicionar IBUs. É o que chamamos de ‘percepção de amargor’, por isso devemos tomar cuidados durante as adições de lúpulo, para não trazer amargor indesejado, chamado de harsh.
ABV:
Mais uma sigla importante para aprofundarmos nas variedades de IPAs! É a medição do teor alcóolico da bebida. Nas IPAs tradicionais fica em torno de 5,5% e 7,5%. Mas como veremos adiante algumas variações do estilo fogem dessa regra, tanto para menos quanto para mais! Mas no geral, podemos afirmar que as IPAs são mais fortes – mais alcóolicas que outras cervejas populares como as Pilsens e Pale Ales!
Corpo:
Quando se fala de cerveja encorpada, estamos referindo à sensação de boca: o tato da cerveja. Isso é uma combinação da fermentação, açucares residuais, que não são metabolizados pelas leveduras, a base de malte e densidade final da cerveja. As mais tradicionais receitas britânicas têm corpo médio a médio baixo, são menos encorpadas que as Bitters (English Pale Ale). Isso vem lá daquela história que contamos no início. Para ter uma vida útil maior, uma fermentação que deixasse menos açucares residuais se fez necessária, resultando em uma cerveja mais alcoólica, de corpo mais leve e consequentemente mais seca!
As primeiras American IPAs foram ainda mais longe, reduzindo ainda mais o corpo, até que na última década vimos o movimento inverso. Com o surgimento das Hazy IPAs, variante bem encorpada! Muitas vezes comparadas até a sucos de frutas, pela alta densidade!
Sub Estilos
Passamos pela história e aspectos técnicos que podem variar dentro desse estilo de cervejas, tão amado! Vamos citar alguns sub estilos de IPA e como eles variam entre si, trazendo uma complexidade e riqueza de sabores e aromas!
- English IPA:
Foi aqui que tudo começou, a IPA clássica! Essa tem medalha aqui na Prussia, tá aí um exemplar de referência pra você experimentar. Com base de malte puxando para o caramelo, equilibra perfeitamente com os lúpulos ingleses, de notas mais herbais e terrosos!
- American IPA:
Inspirada na versão inglesa, foi adaptada às variantes norte americanas de lúpulos, explorando os aromas cítricos e frutados! A base de malte é mais neutra, deixando todo destaque aos lúpulos.
- Session IPA:
Estilo mais leve da IPAs, de teor alcóolico menor, entre 4% e 5%. Está ali entre uma Pale Ale e uma IPA. Aqui todo foco está no aroma! Potencializado ao máximo, porém com amargor mais ameno! Quer uma referência? Clique aqui!
- New England IPA:
Turva e bem amarela, virou febre no mundo inteiro nos últimos anos! Com aroma vibrante dos lúpulos americanos, bem frutada. O amargor é equilibrado pelo corpo aveludado, muitas vezes com adições de aveia e trigo, bastante cremosidade. Aqui na Prussia você pode experimentar a Newbie, uma verdadeira explosão de aromas.
- Brut IPA:
Inspirada nos champanhes, tem alta carbonatação e é extremamente seca! Enzimas são adicionadas para auxiliar na fermentação completa dos açucaras residuais, criando um corpo muito leve. O aroma é intensificado pelo perlage, aquelas bolhinhas! São refrescantes e caíram super bem em terras tropicais! Beba a de boa na lagoa e surpreenda-se!
- Black IPA:
Os fãs de cerveja escura não podem perder! Imagine uma Stout super lupulada e com sabor menos torrado. É isso! Por vários anos as IPAs americanas ficaram na faixa mais clara de cor, até surgir esse estilo! Alguns maltes são preparados para minimizar o sabor e aroma torrado, de forma que o lúpulo continue em destaque!
- Belgian IPA:
Terra de grandes clássicos cervejeiros como as Tripels e Witbiers, é claro que os belgas não ficariam de fora! A IPA aqui ganha o toque esterificado das leveduras, que combinado as altas doses de lúpulo criam aromas e sabores equilibrados!
- Red IPA:
Com maltes caramelo para trazer a cor avermelhada, não abre mão do lúpulo que continua em evidência! Contrapondo as American IPAs claras, mas deixando o equilíbrio britânico de lado.
- Double IPA:
Estamos falando de muito lúpulo e teor alcóolico bastante elevado, acima de 7%. Fazem delas cervejas extremas, em amargor e ABV. Agrada em cheio aqueles que buscam algo a mais!
- Coffee IPA:
Uma combinação estranha à primeira vista, mas que se provou harmônica e deliciosa! Traz uma verdadeira confusão sensorial, cervejas claras, mas com aroma lupulado e bastante gosto de café! Quem curte experimentar novos sabores, não pode perder.
- Fruit IPA:
Se o lúpulo já tem aroma frutado, por que não adicionar fruta logo? Foi o que os cervejeiros fizeram! Uma harmonização natural por semelhança, adicionando uma dose extra de refrescância e tropicalidade. Podendo deixar um dulçor residual a fruta traz ainda um equilíbrio ao amargor e corpo mais aveludado!
- White IPA:
Lembrando a versão belga, aqui os americanos adicionaram amargor, lembrando uma Witbier, talvez pela adição de laranja e especiarias. A base da cerveja ainda pode levar trigo, sem esquecer dos lúpulos, claro!
- Brett IPA:
Fermentadas com leveduras selvagem, trazem sabores e aromas exótico e surpreendentes! Seca e levemente acida, pode soar estranha, mas é super refrescante e tropical!
- Wood Aged IPA:
As variações aqui podem ser grandes! O envelhecimento e bio transformação do lúpulo, combinados com a complexidade das notas amadeiradas, são um universo cada vez mais comuns nas cervejarias! Barris de uísque, cachaça e vinho podem adicionar um toque especial à cerveja.
Se você chegou até aqui, embarcou conosco nessa imersão ao universo das India Pale Ales, em constante evolução desde o século XVIII, merece abrir uma IPA! Não deixe de conferir nosso projeto do 4Pack de IPAs e tenha uma experiencia guiada nesse estilo tão rico em sabores e aromas!